50 anos em 5

Em duas semanas o mundo dá só quinze voltas sobre si mesmo. Já é o suficiente pra barba crescer, ou esperar uma encomenda. Em uma dessas voltas que o mundo vence, tem alguém achando que passou horas tentando tirar um pedaço de pipoca dos dentes ou brincando com uma farpa do dedo.

A percepção de tempo é orientada pelo modo como o preenchemos. Um vazio no tempo transforma minutos em anos, talvez por não haver nada que clame pela atenção e necessidade em dar sentido ao que nos é externo.

Assim, o tempo é como um véu que nos envolve, uma trama, afetando diretamente nossa percepção do mundo, sendo cada vez mais grossa à medida que os fatos se sucedem. Vamos fatiando-o à medida que se torna complicado lidar com um monstrengo de eventos variados, sobrepondo-se uns aos outros. Daí surgem as histórias que contamos, seja por um álbum de fotos no facebook, um vídeo ou uma atualização de status. Aprendemos a fatiar o tempo a cada segundo vivido, “embalando-o” em uma estrutura linear de começo meio e fim para que ele se torne algo mensurável e significativo.

Ultimamente nos tem parecido que o tempo tem passado muito rápido – ou que muitas coisas tem acontecido num período curto de tempo, o que seria o mesmo. Não seria, talvez, por consequência das redes?

Ubiquidade. É um dos princípios básicos das redes. Enquanto acontece aqui, acontece lá, e lá também. Tudo acontece ao mesmo tempo, e está tudo conectado. Nada acontece de forma isolada. Ou seja, depois da internet e mais ainda depois das redes sociais, tomamos consciência dos fatos ao redor do mundo todo.

Não é que tenham acontecido mais coisas, não é que tenham começado a filmar gatos ou bebês rindo só agora. Isso sempre aconteceu, mas é de uns 50 anos pra cá que tudo isso tem sido documentado e há uns 20 que só aumenta a velocidade que isso nos é entregue.

Lembra do In Rainbows, do Radiohead? Pois é, quase 5 anos

Estamos preenchendo nosso tempo com cada vez mais coisas, fatos, eventos, fotos, atualizações de status, e isso afeta nossa percepção de maneira a crer que ele passa mais rápido. Não é uma hora que passa mais rápido, mas a quantidade de informação a que somos submetidos nesse período de uma hora. As coisas de três anos parecem estar obsoletas há dez ou vinte, quase prontas pra entrar na regrinha do vintage. Bem o sabem os adolescentes nostálgicos de hoje.

Conseguimos comprimir o tempo sem ter de quebrar a barreira do som, foi só ter noção do universo de coisas que acontecem enquanto ele passa. Seria a inteligência coletiva da internet uma ideia de onisciência próxima a de Deus? Cabe a reflexão sobre.

Pra fechar, um trecho de “Faraway, So Close”, do Wim Wenders:

Vou explicar duas coisas. O tempo é curto. Essa é a primeira coisa. Para a fuinha, tempo é traiçoeiro. Para o heroi, tempo é heróico. Para a prostituta, tempo é somente outra peça. Se você for gentil, seu tempo será gentil. Se estiver com pressa, seu tempo voa.  O tempo é seu servo se você for o mestre dele. O tempo é um deus se você for seu cão. Nós somos os criadores do tempo e os assassinos do tempo. Tempo é valioso, essa é a segunda coisa. Você é o relógio, Cassiel.

Intercom Sul 2011

Amanhã embarco rumo à Londrina pra apresentar meu trabalho no Intercom Sul.

Primeiro congresso, vamo ver no que dá.

“Chegou-se ao ponto em que o espetáculo invade as relações sociais, ele está em toda parte, como sugere Debord e que Baudrillard interpreta como ‘uma socialidade hiper-realista, em que o real se confunde com o modelo’, num estágio da relação social que já não é o da persuasão, mas o da dissuasão (1991, p. 42).”