Quanto mais internet mais inovação?

A internet é a atualização, e quanto mais se dissemina a banda larga por aí, se dissemina também a cultura da atualização. A atualização do status; de vida; de fotos no Instagram. À medida que a vida muda, atualizamos nossas identidades online, reconstruindo-as a partir do nosso consumo diário, seja de informação, bens ou serviços. Para isso, contamos com a ajuda do aparato tecnológico, análogo aos tentáculos de um polvo.

Se é tudo novo na nossa vida e na vida dos outros, então temos de tudo para NOS atualizar. Ou, inovar. A inovação é parte da cultura da atualização. Sem a busca pelo novo  não há o que atualizar. Inovação não é mais um diferencial, é prerrogativa de sobrevivência social.

Há a possibilidade de nos tornarmos mais criativos com o tempo, uma vez que a busca pela novidade é o novo “matar um leão por dia”. No entanto, quem nos garante criatividade quando nos escondemos involuntariamente das estranhezas que nos aguardam? Não era essa a promessa da web 3.0.

Caos, criatividade, desfoque e maconha.

Os cientistas já disseram: o caos é o pai da criatividade.

A criatividade é o ato de enxergar o diferente, re-significar as coisas à revelia. Ou seja, recodificar o mundo.

Diagrama de Chamos, Caos, Ordem e Controle

Tomar refrigerante de canudinho é um exercício de equilíbrio: você faz vácuo na boca pra que o líquido se equalize na pressão atmosférica. A isso chamamos de “entropia”, que é uma propriedade geral do universo. É um processo orgânico infinito, vai e volta, desorganiza o que tava quase acabando de se arrumar, basicamente porque todas as peças que o formam são autônomas; são bilhões de fatores que nunca terminam de se re-organizar.

É assim que funciona o pensamento. Não há criatividade em uma estrutura estática e permanente. Aliás, a permanência não tem muito a ver com criatividade.

“Quando uma pessoa encontra a verdade, a única coisa que ela adquire é a impossibilidade de ouvir o outro. Ela só fala, não ouve mais. Quem encontra a verdade, só fala.”

E assim funcionam os gigantes corporativos que crêem ter encontrado uma verdade.

Com verdade não há problemas; sem problemas não há caos; sem o caos não há chance pro novo, porque o que há já basta. E ao contrário disso, funciona a serendipidade, as descobertas feitas “por acaso” (e o acaso já é irmanado do caos). Como provocar o acaso?

Costumo relacionar o uso de drogas (lícitas e ilícitas) ao foco atencional. Recomenda-se ao sujeito que costuma sonhar com o trabalho que ele faça uso de algumas (dá-le ritalina e outros). Ou o happy-hour, já impregnado na nossa cultura. Ou fumar um baseado, que também é válido. O objetivo em consumir essas substâncias é o mesmo: render seu cérebro, relaxando o seu foco atencional, que fica cada vez mais difuso e permite ao seu cérebro abrir-se às outras demandas cognitivas. Podemos chamar isso de abrir-se ao caos.

o design thinking sugere “desmontar” os problemas antes de tratar deles

Em uma entrevista, Carlos Castaneda falou sobre o uso de psicotrópicos no xamanismo. Ele esclarece que, como qualquer homem urbano e ocidental, ele era cheio de crenças e paradigmas que não o permitiriam ver o mundo de outra forma. Portanto, pra ele foi preciso fazer o uso destas substâncias pra “desfocar” o mundo e ressignificá-lo.

Fazendo uma analogia visual: pergunte a um míope como ele vê o mundo sem óculos. Obviamente, tudo desfocado. Quando “desfocamos” nossa atenção, portanto, ficamos míopes ao mundo, provocando uma redescoberta do mundo.

Abrir-se ao caos é permitir que ao inesperado se interponha no seu percurso diário, e não necessariamente fica atrelado ao uso de “distorcedores de realidade” (embora o Mini e Michel Maffesoli provam por A + B que ambientes caóticos de reunião de pessoas como bares e cafés colaboram MUITO pra criatividade).

Há controvérsias: O Tiago Doria já cantou a bola sobre o poder criativo dos tímidos e dos introvertidos. Agora saiu na Folha uma reportagem com bastante conteúdo sobre isso.

Mesmo assim, seja sozinho ou em bando, abrir-se ao novo sempre favorece a criatividade.

Lendo: o processo criativo, por García Márquez

Que tipo de mistério é esse, que faz com que o simples desejo de contar histórias se transforme numa paixão, e que um ser humano seja capaz de morrer por essa paixão, morrer de fome, de frio ou do que for desde que seja capaz de fazer uma coisa que não pode ser vista nem tocada, e que afinal, pensando bem, não serve para nada? Algumas vezes acreditei – ou melhor, tive a ilusão de estar acreditando – que ia descobrir de repente, o mistério da criação, o momento exato em que uma história surge. Mas agora acho cada vez mais difícil que isso aconteça. Desde que comecei a dirigir estas oficinas ouvi inúmeras gravações, li um sem-fim de conclusões, tentando ver se descubro o momento exato em que a idéia surge. Nada. Não consigo saber quando isso acontece.

Gabriel García Márquez sobre o processo criativo.

Achei por acaso no Scribd.

 

Lendo: Cultura Livre

Fazem umas duas ou três semanas que tou tentando me disciplinar a publicar um post por semana no mínimo. As ideias vem num fluxo maior do que esse período, mas como demora um pouco até concatenar tudo e transformá-las num post bonitinho que faça o mínimo de sentido, pensei no “projetooqueestoulendo” e trazer pra cá alguns trechos de livros que tenho lido, ou que já li, e que de uma forma ou de outra influem no que eu escrevo depois, como esse trecho aqui de Cultura Livre, do Lawrence Lessig:

   Nos próximos dez anos veremos uma explosão de tecnologias digitais. Tais tecnologias possibilitarão a qualquer um capturar e compartilhar informações. Captura e compartilhamento de informações é, obviamente, o que os humanos têm feito desde os primórdios da espécie. É assim que aprendemos e nos comunicamos. Mas capturar e compartilhar através de tecnologia digital é diferente. A exatidão e o poder são diferentes. Você poderia enviar um e-mail contando a alguém sobre uma piada que você viu no Comedy Central, ou você poderia enviar o clipe. Você poderia escrever uma dissertação sobre as inconsistências nos discursos dos políticos que você mais ama odiar, ou você poderia fazer um curta-metragem exibindo afirmações contraditórias destas mesmas pessoas. Você poderia escrever um poema para expressar seu amor por alguém, ou você poderia fazer uma colagem musical com suas músicas favoritas e disponibilizá-la na Internet.

Essa “captura e compartilhamento” digital é em parte uma extensão da captura e compartilhamento que sempre foram integrados à nossa cultura, e também é em parte algo novo. É a continuação da Kodak, mas destrói as barreiras das tecnologias do gênero. A técnica de “captura e compartilhamento” digital promete um mundo de criatividade incrivelmente diversa que pode ser fácil e amplamente compartilhada. E, à medida que tal criatividade se aplicar à democracia, será possível que uma vasta parcela de cidadãos utilizem-na para expressar, criticar e contribuir com a cultura que os rodeia.

A tecnologia nos deu a oportunidade de fazer algo com a cultura que era possível apenas para indivíduos em pequenos grupos, isolados uns dos outros. Pense em um velho senhor contando uma história para um grupo de vizinhos em uma cidadezinha. Agora pense na mesma história transmitida globalmente.

Tem tudo a ver com o post da semana passada, “A Imodéstia do Artista do Século”. Só pra contextualizar mesmo.

O livro tu pode procurar na internet ou acessar e baixar aqui na íntegra.

a imodéstia do artista do século

Pra contextualizar: imagine um ambiente permeado pela troca cultural, uma época em que a “população” de artistas triplicará (no mínimo), porque de repente todo lugar e momento se converte em galeria/exposição diante da indistinção do público/privado. E não é a população que cresce literalmente, mas a possibilidade de criar. Pense nos milhares de fotógrafos de celular, nos designers autodidatas, nos djs caseiros, na Escola de Artes Cênicas do Youtube ou na galeria de arte contemporânea da Rua. Como vamos lidar com isso nos próximos anos? Não é o artista o arauto dos novos tempos, o radar da humanidade?

(acima, o programa responsável pelo parto desse texto)

Essa explosão repentina de gente criando, fazendo coisas novas, recriando e conversando faz surgir uma espécie de “nova atmosfera” social. Estaremos cada vez mais cercados de música, de movimento, de poética e de design nos próximos anos. Veios criativos pipocam por aí, e quanto maior a conectividade entre eles, maior é o fluxo criativo. A construção da pós-modernidade no século passado é revista atualmente, estamos vestindo novamente o figurino vintage, agora pelo avesso. Olhamos pra trás com um ar de já ter passado por tudo aquilo. Com isso, nos acostumamos com a ideia de coletivo criativo, vida em comunidade, auto-sustentação e contra-cultura. De novo. Mais novo.

Vai-se perder a razão, mas não a fé.

Todo ser humano é um artista em potencial. Já passamos de todas as fases de redescobertas do ser humano. Passou o cubismo. Passou Basquiat. Até o graffiti já passou. Agora, façamos o caminho inverso da modernidade. O que faltava ao artista, não falta mais. Mostre-se a quem quiser (te ver). Mas não queira ser o centro das atenções, isso não é saudável pra você, nem pra ninguém.

Ao invés disso encontre os outros, os iguais e os diferentes. Isso é a criatividade, que não pode ser mais exclusividade dos “gênios” – estes que já não tem mais o propósito de existir – descobrimos seu segredo: a criatividade vem dos outros, de copiar e reinventar. Remodelar. Tudo é remix. Os gênios são todos aqueles que descobriram a ingenuidade de descobrir as diferenças.

E o que está por vir? A compreensão? “Grandes estruturas abstratas”, com certeza. O mundo físico tomará um novo significado, o reinventaremos.

Mas não se esqueça: olhe pro lado e escute quem estiver ali. E diga isso a quem estiver do outro lado.

“Tudo é um remix”

Ser criativo é ter referências.

Juntar um punhado de subjetividades individuais, aquelas peças que montam nosso repertório: cenas de filmes, frases de músicas, trechos de séries, histórias de avô. É assim que se monta uma obra, segundo Kirby Ferguson, produtor responsável pela série de quatro filmes “Everything Is A Remix” (o quarto chega no segundo semestre de 2011).

Copiar faz parte do processo criativo. Um descobre e faz, e aí cada um faz sua leitura da coisa de acordo com suas experiências, vivências e percepções. A partir disso cada cópia leva um pedaço de quem copiou, sofrendo adaptações, melhoras e deformações.

O Mini comentou na semana passada sobre não ser o primeiro a ter uma ideia. As ideias originais não são bem as primeiras, mas as derivações das mesmas. As peças da prensa inventada pelo Gutenberg já existiam, ele redefiniu as funções de cada uma e deu início à tal ~~Revolução Industrial~~.

Ademais, a cópia faz parte da metodologia de aprendizado humano desde muito tempo. O “fazer igual” disseminou o conceito da roda, da pedra lascada, do fogo, das ferramentas, etc. O “remix” é inerente à natureza (não só humana).

Fiquei sabendo da “trilogia de quatro partes” pelo blog da Box1824.